quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A Leveza Profética



"Un Prophète"
é um filme de gangsters, prisões e domínio do sub-mundo, porém a diferença é que tem uma visão totalmente diferente da visão comercial tipicamente Americana. Não quero defender um ponto de vista nem outro, porém no final deste filme fiquei com a sensação que se tivesse visto uma versão americana tinha-o o "rotulado" como mais um filme sobre Crime.
A visão de Jacques Audiard transforma um filme numa leveza e ao mesmo tempo a brutalidade de uma França problemática onde as diferenças étnicas são visíveis, onde a realidade dentro e fora das paredes de uma prisão são bem visíveis, uma prisão física e psicológica tão bem conseguida pela personagem principal Malik El Diebena (Tahar Rahim)
.
As "profecias" deixam o espectador respirar e admirar o filme, transportando o espectador para situações quase paralelas ao que está a acontecer.
Tecnicamente o som em todo o filme muito bem conseguido, situações que pediam mudança em algum aspecto e são completadas a nível sonoro de uma forma subtil como é pedido.
Um filme que respira e deixa respirar, em que tudo acontece a um ritmo natural e realista.




"Un Prophète" um filme de Jacques Audiard (2009)


terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

"Vai e Vem"

Vai e Vem”, foi o último ensaio cinematográfico de João César Monteiro e saiu para as salas de cinema a 3 de Junho de 2003, quatro meses depois do seu desaparecimento. Monteiro, como que soubesse do seu inevitável e trágico futuro próximo, aplicou à sua derradeira obra um desfecho conscientemente conclusivo. Desta feita, Monteiro deu vida a João Vuvu, o alter-ego do seu criador, o anti-herói intelectual, o maldito e meio vagabundo, o antagonista de um(a) protagonista que é Lisboa, que é Portugal, que é o Português em todo o seu carácter. Ligeiramente distinto do João de Deus das três icónicas obras de Monteiro que completam a trilogia, este João Vuvu, - que é viúvo e tem um filho assassino - assume desapiedadamente o seu estado de velhice, resguarda-se na sua antiga e ampla habitação, e é rara a sua comunicação com o mundo exterior, com a sociedade que tanto critica, neste, e em tantos outros seus filmes. Mais uma vez o burlesco, a blasfémia, a provocação, e o desafio ao espectador, constroem a sátira “Monteiriana”. A sexualidade, essa, nunca foi tabu.

O legado de César Monteiro é concluído e eternizado no seu vigésimo segundo trabalho como realizador, de entre mais de dez longas-metragens, tele-filmes e mais algumas curtas-metragens produzidas ao longo da sua carreira. Cannes aproveita a ocasião numa sessão única de “Vai e Vem” na selecção oficial da 56ª edição do festival para homenagear o autor. Entre outras obras premiadas, “Vai e Vem” é reconhecido por um público que lhe presta culto, um público seguramente mais Europeu, tal como o seu cinema foi, é, e será; fruto da sua exclusiva, complexa e extravagante literacia, João César Monteiro distingue-se e ficará para a história como um dos realizadores mais singulares da Sétima Arte.

No último plano do filme, o olho de João César Monteiro em pormenor. Nesses fotogramas reside toda a sua obra, numa só visão, a sua, aquela que lhe permitiu conceber a sua obra total como cineasta.