quarta-feira, 17 de junho de 2009

O Cinema Português

O que é afinal o cinema português? Onde fica o cinema português no cada vez mais vasto panorama cinematográfico do mundo, e em especial da Europa?
Na verdade não temos “um cinema português” nunca chegamos a cria-lo apesar das muitas promessas. Para a Europa, e mais ainda para o mundo, o cinema português é Manuel de Oliveira, o único e sumo senhor do cinema em Portugal, e acreditem, para tudo o resto o cinema português é este senhor. Somos pouco mais na vasta dimensão cinéfila. Apesar do mérito às vezes até incógnito, é de certa forma redutivo atribuir toda uma cultura e jeito cinematográfico de um país a um só criador, eternamente experimental.
O que é feito então de todos os muitos criadores nacionais que se destacam pela sua especial aptidão em todos os tipos de arte? No cinema em particular, a ultima geração de criadores apesar de ser já um problema que os antecede, vêem se limitando a fazer cinema por imitação. Ainda que uns mais bem conseguidos do que outros, uns estupidamente comerciais ou outros radicalmente alternativos mas sempre por imitação. Não há uma cultura própria, muito menos uma cultura portuguesa, que se possa chamar de cinema português.
Mas porquê esta insistência em fazer mau ou muito mau cinema em Portugal? Os criadores ou pseudo, acusam o público já pouco habituado a cinema de qualidade, de recusarem experimentar o nosso cinema. Não será este divorcio uma birra de culpa repartida? Não consigo perceber a vergonha e a falta de sentido de oportunidade dos artistas cinematógrafos portugueses na imagem, no grafismo e na dinâmica da nossa cultura e arte no nosso país, ao fim e ao cabo no nosso portuguesismo, recheado de pormenores maravilhosos, de coisas próprias, e tão agradáveis do ponto de vista visual e sensorial. Se imitamos tão mal um cinema que não é nosso, porque é que não aproveitamos os exemplos dos nossos países vizinhos e padrinhos do cinema em Portugal, como a França, Itália e Espanha. Onde todos os filmes de maior sucesso doméstico e internacional giram em redor das suas culturas muitos próprias, dos seus costumes, das suas gentes e visão. Em França os filmes sobre o francesismo são de sucesso retumbante, em Itália um país abarrotado de portentoso cinema, os grandes filmes de culto e maiores sucessos comerciais são retratos dos italianos e do que é ser italiano. Em muitas das minhas viagens ouço com tristeza que a cultura portuguesa tem ainda muito para se dar a conhecer. E somos nós e todos os jovens artistas e cinéfilos portugueses que temos a obrigação de esboçar um novo rumo, alastrando e cultivando o portuguesismo, cá e lá no outro mundo que ainda não o conhece. Temos gente, temos sons, temos cor, temos sotaques, temos ideias e executantes, temos cafés e temos tascas, temos ruas e mato, temos poetas e as vidas deles, temos vontade, falta-nos o nosso cinema! Despeço-me com os melhores cumprimentos. Volto a dar noticias quando regressar de férias. Por enquanto deixo-vos algumas saudáveis recomendações.

Em DVD

Milk – Gus Van Sant
A Valsa com Bashir – Ari Folman
Rocknrolla – Guy Ritchie

No Cinema

This is England – Shane Meadows
Home – Yann Arthus-Bertrand
Dernier Maquis – Rabah Ameur-Zaimeche
Antichrist – Lars von Trier
Home – Ursula Meier
Shotgun Stories – Jeff Nichols

No Futuro

Looking for Eric – Ken Loach – “Cantona… Eric Cantona”
JCVD – Mabrouk El Mechri – “Vamos dar-lhe uma segunda oportunidade”

Hernani D’Almeida