“Vai e Vem”, foi o último ensaio cinematográfico de João César Monteiro e saiu para as salas de cinema a 3 de Junho de 2003, quatro meses depois do seu desaparecimento. Monteiro, como que soubesse do seu inevitável e trágico futuro próximo, aplicou à sua derradeira obra um desfecho conscientemente conclusivo. Desta feita, Monteiro deu vida a João Vuvu, o alter-ego do seu criador, o anti-herói intelectual, o maldito e meio vagabundo, o antagonista de um(a) protagonista que é Lisboa, que é Portugal, que é o Português em todo o seu carácter. Ligeiramente distinto do João de Deus das três icónicas obras de Monteiro que completam a trilogia, este João Vuvu, - que é viúvo e tem um filho assassino - assume desapiedadamente o seu estado de velhice, resguarda-se na sua antiga e ampla habitação, e é rara a sua comunicação com o mundo exterior, com a sociedade que tanto critica, neste, e em tantos outros seus filmes. Mais uma vez o burlesco, a blasfémia, a provocação, e o desafio ao espectador, constroem a sátira “Monteiriana”. A sexualidade, essa, nunca foi tabu.
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