sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O Culto

Haverá fenómeno mais curioso que o culto dentro do contexto artístico?
Ou até mesmo em todas as outras faces da vivencia humana?
O culto é fascinante no conceito e mais ainda no processo que o desenvolve.
E o que é isto?
Se pensarmos bem, o processo é simples. A ideia surge, o criador estuda-a, desenvolve-a e concretiza-a.
A ideia chega em forma de obra ao público, e por razões que só a ciência evolutiva pode explicar, um número indeterminado de receptores, identifica-se, emocionalmente e intelectualmente, com a obra.
O culto é o passo seguinte. Quando o espectador deixa de ser um mero receptor e passa a relacionar-se intimamente com a obra. A obra passa a fazer parte do imaginário e quotidiano do espectador.
É um desenvolvimento totalmente involuntário. Começamos a ver uma Série, porque o tema parece interessante e passados três episódios, o culto é activado, acordamos com vontade de ver o episódio seguinte, passamos o dia a segredar aos colegas de trabalho sobre o quão fascinante é o enredo, e ao fim do dia corremos para casa na ansiedade de assistir ao próximo, dramatizo. É incrível como um espectador comum se consegue aproximar de uma determinada obra a ponto de se sentir intimo dela. De sentir que faz parte do processo criativo, do qual essa obra resulta. Isto é um fenómeno largamente conhecido também no cinema, com obras que se tornaram de culto tendo em conta a tamanha proximidade que estas conseguiram junto de um determinado público.

Assisti ininterruptamente durante sete anos á obra de culto “Os Sopranos” e durante esse tempo, conduzi como o Christy, comi como o Tony, e falei como o Sil e imitei o Paulie em momentos bem dispostos com amigos, utilizei expressões italianas para acarretar conversas. Achei-me muitas vezes racista e xenófobo, a família passou a ser a minha primeira preocupação e a lealdade o valor de maior importância. Quase me envolvi em negócios ilegais. E inconscientemente senti-me tão próximo daquelas personagens que as julguei parte da minha realidade. E tudo isto devido á capacidade criativa e ao desempenho notável de um conjunto de artistas que de forma involuntária condicionaram a minha vida e a de outros tantos membros da audiência.
Incrível esta coisa do culto não é?

Despeço-me com os melhores cumprimentos. Volto a dar noticias quando regressar de férias. Por enquanto deixo-vos algumas saudáveis recomendações.

Em DVD

Ponyo à Beira-Mar – Hayao Miyazaki
Inglourious Basterds – Quentin Tarantino
Los abrazos rotos – Pedro Almodóvar

No Cinema

The Young Victoria – Jean-Marc Vallée
Nine – Rob Marshall
Invictus – Clint Eastwood

No Futuro

Fela – Steve McQueen
Shutter Island – Martin Scorsese
The Adventures of Tintin: The Secret of the Unicorn – Steven Spielberg (hoje de parabéns)


Hernani D'Almeida

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